Nas grandes mídias, ouvimos falar em fundamentalismos? A que essa palavra nos remete? Bem possível que a primeira imagem que venha à cabeça seja associada ao fundamentalismo islâmico, aos atentados, mulheres submetidas a condições degradantes, homens-bomba, a guerra santa, a um Estado que, a nossos olhos, com a informação que nos chega pela grande mídia ou redes sociais, reflete a doutrina religiosa. Por esse caminho, o fundamentalismo fica lá, distante, gerando forte preconceito com pessoas da religião islâmica, e materializado como absurdos que se apresentam a nós, nitidamente, como violências.

É um espanto geral pensar em meninas de 10 anos obrigadas ao casamento em territórios de maioria islâmica. E o que dizer de meninas de 10 anos grávidas, por meio de estupro, sem seu direito garantido ao aborto legal e seguro, em territórios de maioria cristã? O que dizer da proposta de uma “cura gay”, que trata da diversidade sexual e de gênero como doenças a serem curadas? Esses são alguns dos casos, entre tantos, que evidenciam o quanto nossa sociedade é permeada pelos fundamentalismos ligados a premissas religiosas.

Nesta edição do Massa Crítica, abordamos os fundamentalismos religiosos, isto é, as ações baseadas na ideia de que a verdade de seu grupo religioso, ou de sua igreja, é a única que possui legitimidade. Todas as outras formas de viver, a partir de outras perspectivas, são invalidadas e/ou criminalizadas. Podemos pensar, como exemplos, nas famílias, quando pessoas LGBTQIAP+ são expulsas de seus lares por não viverem sua sexualidade conforme a interpretação bíblica de determinada igreja; ou na divisão injusta do trabalho doméstico, quando a mulher é a única responsável pelos trabalhos de cuidado com a casa, com as crianças e mais velhos, com aquilo que mantém a vida no cotidiano; ou mesmo a naturalização da violência contra a mulher, como um direito do homem, com base em trechos bíblicos e outras construções históricas patriarcais.

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